Por Patricia Stahl Gaglioti, estudante de jornalismo
“Não sou baderneiro. Eu só não quero que roubem meu dinheiro”. A mensagem era clara. No entanto, quando os manifestantes tentaram interromper a passagem do terminal central de ônibus de Joinville, a polícia é quem fez a baderna.
Certa vez, li o parecer do ombudsman (crítico de um jornal) da Folha de São Paulo sobre a manifestação dos estudantes da USP e ele dizia que ainda não inventaram nada melhor que a polícia para cuidar da segurança pública. Segurança que deve ser colocada entre aspas. Polícia que deve ser reinventada. O ombudsman fazia uma crítica tanto a ação da polícia quanto a atitude dos estudantes que invadiram a reitoria da universidade.
Não sei como é o treinamento das supostas pessoas encarregadas de cuidar da tal segurança pública, mas o que eu particularmente presenciei em mais uma manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) na quarta-feira, me indignou.
Assim como outros manifestantes, tive a impressão de que os policiais que estavam ali para garantir a nossa segurança esperavam ansiosamente para usarem sua chamada autoridade. Autoridade que lhes é assegurada pela lei e por outros objetos que carregam pelo corpo: arma de fogo, cassetete e spray de pimenta. Literalmente, pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Em uma atitude incontestavelmente desnecessária, os policias, que pediram para que nos retirássemos do local de entrada dos ônibus, sem terem seu pedido acatado decidiram usar outros métodos para que saíssemos do local.
Com a face séria e usando os ombros como forma de liberar passagem, foram eles tentando afastar os manifestantes. Me lembro apenas de um policial, se não me engano, um senhor, que tentava liberar o caminho de forma mais, digamos, civilizada. Usava as mãos para nos afastar, mas houve quem preferisse usar os ombros e o spray de pimenta.
“Tudo aconteceu de forma pacífica, cumprindo as regras para este tipo de manifestação”, afirmou o aspirante Jean Carlo Denk, ao jornal A Noticia. Fiquei sem entender. Então, o que seria forma pacífica? Quais seriam as regras?
Me indignei com o que vi. Em determinado momento, olhei para o lado e vi uma cena que, em suas devidas proporções, me remeteu ao documentário Noticias de uma guerra particular, especialmente por causa desse título. Um policial que já tinha jogado spray de pimenta em um manifestante, talvez para revidar alguma fala desse próprio manifestante, desafiava-o a ir até o local onde ele se encontrava, na posse de seu spray de pimenta. Uma palavra define esse ato: ridículo.
Lembrei do documentário, como já disse, por causa do nome. Vi ali uma cena não de uma guerra, mas de um desafio particular. Era o manifestante de um lado sendo chamado pelo policial para encarar seu famigerado spray.
É freqüente vermos nos telejornais imagens de manifestações, nas quais ocorre conflito com a polícia. Como de costume, a imagem dos manifestantes fica estereotipada como baderneiros. Mas lembrem-se: “Não sou baderneiro. Eu só não quero que roubem meu dinheiro”. Não tenho provas, nem conhecimento de causa para o que vou dizer, trata-se apenas de uma impressão minha. Não precisa de muita coisa para a policia usar sua força, como também não precisa de muito spray ou cassetete para que os manifestantes revidem o ato. E a confusão está pronta. Portanto, tenho a leve impressão que, na maioria das vezes, quem arma a confusão, e me parece que gosta de armá-la, é a polícia. Basta uma palavra que não foi acatada e o estresse se instala.
Digo isso porque realmente me irritou ver a cena que vi. E vontade não faltou de revidar a atitude deles. No entanto, ninguém lá fez isso. Diante disso, posso concluir que a polícia é despreparada para lidar com o cidadão. A cena do policial enfrentando um aluno da USP, veiculada por vários telejornais, também é prova disso.
A manifestação que tinha como objetivo protestar contra o aumento da passagem de ônibus, por um breve tempo, assumiu outra causa. “Polícia é pra ladrão, pra estudante não”.
Ainda que tenhamos problemas no meio do caminho, não podemos nos afastar da causa. Exercemos apenas um direito que nos foi concedido. Como diria o Recado de Gonzaguinha: “Se me der um grito, não calo. Se mandar calar, mais eu falo”. E assim nós caminhamos com “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”, palavras do mesmo compositor.
Bom seria se esses homens se despissem de sua autoridade e caminhassem junto a nós. Ficam as palavras de Luiz Gonzaga do Nascimento Junior:
“Mas se me der a mão, claro, aperto
Certa vez, li o parecer do ombudsman (crítico de um jornal) da Folha de São Paulo sobre a manifestação dos estudantes da USP e ele dizia que ainda não inventaram nada melhor que a polícia para cuidar da segurança pública. Segurança que deve ser colocada entre aspas. Polícia que deve ser reinventada. O ombudsman fazia uma crítica tanto a ação da polícia quanto a atitude dos estudantes que invadiram a reitoria da universidade.
Não sei como é o treinamento das supostas pessoas encarregadas de cuidar da tal segurança pública, mas o que eu particularmente presenciei em mais uma manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) na quarta-feira, me indignou.
Assim como outros manifestantes, tive a impressão de que os policiais que estavam ali para garantir a nossa segurança esperavam ansiosamente para usarem sua chamada autoridade. Autoridade que lhes é assegurada pela lei e por outros objetos que carregam pelo corpo: arma de fogo, cassetete e spray de pimenta. Literalmente, pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Em uma atitude incontestavelmente desnecessária, os policias, que pediram para que nos retirássemos do local de entrada dos ônibus, sem terem seu pedido acatado decidiram usar outros métodos para que saíssemos do local.
Com a face séria e usando os ombros como forma de liberar passagem, foram eles tentando afastar os manifestantes. Me lembro apenas de um policial, se não me engano, um senhor, que tentava liberar o caminho de forma mais, digamos, civilizada. Usava as mãos para nos afastar, mas houve quem preferisse usar os ombros e o spray de pimenta.
“Tudo aconteceu de forma pacífica, cumprindo as regras para este tipo de manifestação”, afirmou o aspirante Jean Carlo Denk, ao jornal A Noticia. Fiquei sem entender. Então, o que seria forma pacífica? Quais seriam as regras?
Me indignei com o que vi. Em determinado momento, olhei para o lado e vi uma cena que, em suas devidas proporções, me remeteu ao documentário Noticias de uma guerra particular, especialmente por causa desse título. Um policial que já tinha jogado spray de pimenta em um manifestante, talvez para revidar alguma fala desse próprio manifestante, desafiava-o a ir até o local onde ele se encontrava, na posse de seu spray de pimenta. Uma palavra define esse ato: ridículo.
Lembrei do documentário, como já disse, por causa do nome. Vi ali uma cena não de uma guerra, mas de um desafio particular. Era o manifestante de um lado sendo chamado pelo policial para encarar seu famigerado spray.
É freqüente vermos nos telejornais imagens de manifestações, nas quais ocorre conflito com a polícia. Como de costume, a imagem dos manifestantes fica estereotipada como baderneiros. Mas lembrem-se: “Não sou baderneiro. Eu só não quero que roubem meu dinheiro”. Não tenho provas, nem conhecimento de causa para o que vou dizer, trata-se apenas de uma impressão minha. Não precisa de muita coisa para a policia usar sua força, como também não precisa de muito spray ou cassetete para que os manifestantes revidem o ato. E a confusão está pronta. Portanto, tenho a leve impressão que, na maioria das vezes, quem arma a confusão, e me parece que gosta de armá-la, é a polícia. Basta uma palavra que não foi acatada e o estresse se instala.
Digo isso porque realmente me irritou ver a cena que vi. E vontade não faltou de revidar a atitude deles. No entanto, ninguém lá fez isso. Diante disso, posso concluir que a polícia é despreparada para lidar com o cidadão. A cena do policial enfrentando um aluno da USP, veiculada por vários telejornais, também é prova disso.
A manifestação que tinha como objetivo protestar contra o aumento da passagem de ônibus, por um breve tempo, assumiu outra causa. “Polícia é pra ladrão, pra estudante não”.
Ainda que tenhamos problemas no meio do caminho, não podemos nos afastar da causa. Exercemos apenas um direito que nos foi concedido. Como diria o Recado de Gonzaguinha: “Se me der um grito, não calo. Se mandar calar, mais eu falo”. E assim nós caminhamos com “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”, palavras do mesmo compositor.
Bom seria se esses homens se despissem de sua autoridade e caminhassem junto a nós. Ficam as palavras de Luiz Gonzaga do Nascimento Junior:
“Mas se me der a mão, claro, aperto
Se for franco, direto e aberto
Tô contigo amigo e não abro
Vamos ver o diabo de perto
Mas preste bem atenção, seu moço
Não engulo a fruta, o caroço
Minha vida é tutano, é osso
Liberdade virou prisão”.
Texto originalmente publicado no blog Tamanduá Voador.
Certa vez eu li "a sociedade tem a Polícia que merece".
ResponderExcluirEm vez de tomar seu querido tempo para escrever discursos moralistas de estudante que ainda não saiu da saia da mãe, procure se informar um pouco mais e acima de tudo "cumpra as leis".
Engraçado que essa mesma Polícia que você faz questão de descrever como despreparada é a mesma que você lembra de chamar quando está chorando por ter se machucado em um acidente ou ter sua casa roubada.
Já que fazes tanta questão de falar mal dos policiais, espero que não fique pertubando eles, quando bandidos entrarem em sua residencia e fazer barbaridades com sua família.
Se nem Jesus conseguiu agradar a todos, quando mais nós simples mortais.
Tenha um bom dia!
Leonardo da Silva
Leonardo,
ResponderExcluirCom respeito, seu comentário está desequilibrado.
Em primeiro lugar porque a autora faz a crítica ao despreparo de um setor fundamental da sociedade (os profissionais da segurança pública) e você responde desqualificando quem escreveu o texto, o que é absolutamente disparatado.
Em segundo lugar, a crítica se dirige ao tratamento dado a manifestantes políticos; não se trata de uma "crítica global" à polícia. É um fato histórico indiscutível que a polícia brasileira, em especial a militar, em razão dos mais de vinte anos de ditadura civil-militar que o Brasil passou, ainda tem sérios problemas no trato com questões políticas. Há setores mais avançados (como o sindicato dos policiais, APRASC, que compreendem o sentido das manifestações e até as apoiam), até os mais retrógrados (como a maioria do comando). Mas ainda permanece entranhada uma concepção de polícia cuja defesa da ordem é a defesa da propriedade e interesse dos setores econômicos mais poderosos. Basta ver o caso do Pinheirinho, recentemente (no qual a polícia agiu contra o Tribunal Regional Federal e procedeu a desocupação, portanto quebrando a lei).
Em terceiro, conforme reunião no Ministério Público de Joinville, com o comando da polícia, prefeitura e frente de luta pelo transporte, a PM não usará mais spray de pimenta (conforme publicado, em vídeo, inclusive neste blog). Ora, se o comandante da PM diz que não usará mais spray de pímenta isso não equivale a assunção do erro? Se a PM admite isso, qual a dificuldade em você admitir, Leonardo?
Não se trata comparar a polícia com Jesus. Nas democracias apelar a religião não faz o menor sentido (cada um tem a sua religião e vários outros tem direito inclusive de não ter nenhuma). Se trata do controle público, da crítica possível, permitida pela Constituição Brasileira, de uma cidadã a respeito de um órgão público. É assim que funcionam os processos democráticos e o texto é uma sincera e importante contribuição nesse sentido.
Abraços,
Hernandez