sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O fracasso do modelo privado de transporte coletivo em Joinville – por um transporte público

Por Hernandez Vivan

O transporte coletivo de modelo privado fracassou em Joinville – e poderíamos estender, grosso modo, a mesma afirmação para o restante do Brasil. Essa é uma afirmação forte, certamente, mas ainda sim não se trata de exagero ou desvio retórico. Hoje o transporte coletivo tem uma qualidade ruim, tarifa cara e é incapaz de agregar mais passageiros, perdendo usuários para carros e motos. É necessário demonstrar esse fracasso, pois assim poderemos pensar para além desse modelo privado. O texto que segue é uma tentativa disso. O problema de fundo é a licitação do transporte coletivo anunciada pelo IPPUJ. Queremos pensar uma alternativa de transporte que não seja apenas a mera legalização das atuais empresas privadas – o que aparentemente se avizinha nos planos do IPPUJ. Exploração do transporte ilegal e sem licitação é tão boa – ou melhor, tão ruim – quanto exploração legalizada e licitada.

* * *

A tarifa do transporte coletivo em Joinville é cara. Citar um dado pode ajudar a pensar isso numa maior escala, mas não contradiz a experiência cotidiana de milhares de joinvilenses que sentem em seu bolso esse absurdo preço. Em Joinville, nesse sentido, a tarifa aumentou 325% de 96 até 2011, ao passo que a inflação foi cerca de 176%. Supondo que para um setor importante dos trabalhadores o reajuste de seus salários acompanhe a inflação, nota-se claramente que a tarifa ultrapassou em muito a inflação. O principal fator de escolha do transporte coletivo pelo usuário é o preço[i]. Por não se acomodar ao orçamento, o transporte acaba por ser preterido em favor de outros meios ou mesmo a mobilidade passa a não ocorrer para grandes contingentes da população. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE mostrou que o transporte é o terceiro maior gasto das famílias no Brasil (16%), atrás apenas de alimentação (16,1%) e moradia (29,2%)[ii]. A tarifa, que é aquilo que condiciona o acesso ao transporte, é o principal responsável pela expulsão de usuários do sistema de transporte coletivo e por um rombo significativo nos orçamentos familiares. O aumento exorbitante da tarifa é a prova contundente que o modelo de transporte atual é incapaz de acompanhar a renda daqueles que deveria promover a mobilidade. Como se trata de um transporte alçado à condição de mercadoria, trata-se de uma mercadoria cujo preço é incompatível com as possibilidades de compra de seus clientes, uma mercadoria cujo preço emperra sua própria demanda. O problema é quando essa mercadoria, de preço abusivo e quase inacessível, é justamente aquilo que deveria ser um direito elementar de todo cidadão.

O transporte coletivo em Joinville não é de boa qualidade. Basta tomar um ônibus em um horário de pico para constatar a veracidade disso. A mesma pesquisa SIPS revela que no geral os usuários de ônibus reprovam, em mais de 50%, a qualidade dos serviços prestados[iii]. Embora Carlito sempre argumente que o transporte de Joinville tem boa qualidade – índice do seu desconhecimento da realidade da maioria da população –, e o faça amparado em uma “pesquisa”, até hoje essa pesquisa jamais veio a público. O que existe de mais próximo é a pesquisa do Instituto Mapa[iv] que demonstrou que nos quesitos interligação, conforto, em relação ao serviço prestado e ao preço pago Joinville apresenta notas abaixo de 5. A interligação precária entre bairros revela um modelo de transporte que funcionaliza a mobilidade de modo a ter prioridade em deslocar as pessoas para o trabalho e o consumo centralizados, e não outros tipos de interações bairro com bairro. Já a falta de conforto é resultado direto do modelo tarifário empregado, que em vista de incrementar os ganhos do empresário do transporte necessita lotar os ônibus, ganhando o empresário em lucro e o usuário perdendo em qualidade. A pesquisa também mostrou que satisfeitas algumas condições no transporte coletivo, como o melhoramento da relação custo-benefício, se houvesse mais horários de ônibus, se o tempo de trajeto fosse mais curto e se houvesse mais conforto, 40% daqueles que não utilizam transporte coletivo (ou o utilizam apenas uma vez na semana) passariam a fazê-lo com certeza e 42% provavelmente o fariam, perfazendo 82% de usuários que entrariam no sistema se as condições do transporte melhorassem – sobretudo nos quesitos preço da tarifa e qualidade. Para rebaixar mais ainda a qualidade, nos últimos anos as linhas disponibilizadas entre 01h30 e 04h30 foram retiradas, linhas essas que atendiam diversos usuários que deixavam seus postos de trabalho durante esse período ou que usavam o transporte com a perspectiva do lazer noturno.

O transporte de Joinville demonstra seu fracasso, ainda, na medida em que não agrega usuários, mas sim os perde para outros meios. Em 2000 o número diário de passageiros era 139.022 (para uma população de 429.604). Em 2009 havia diminuído para 137.058 (para uma população de 497.331)[v]. É claro que isso está relacionado a uma política de desenvolvimento econômico fundada na indústria automobilística e no mercado interno – opções políticas que não nos deteremos nesse texto, embora, resulta evidente, que essas opções desenvolvimentistas têm causado custos visíveis, como um inchaço urbano brutal –, porém também em decisões erradas que fazem do transporte coletivo pouco ou nada atrativo para a maioria da população. O preço da tarifa, o principal fator da perda de usuários, permanece num ritmo de escalada, por exemplo.

A não-mobilidade de boa parte dos joinvilenses – e a incapacidade do poder público em dar respostas ao problema – pode ser aferida consultando-se o jornal A Notícia de 14 de julho de 2010 que revelou dados de uma pesquisa de mobilidade realizada pelo IPPUJ. Segundo a pesquisa, 34,24% dos deslocamentos são não-motorizados (a pé ou de bicicleta). E quando são motorizados, o ônibus perde para o carro (Carro: 34,55%, ônibus: 21,79%; inclusive as pessoas andam mais a pé, 23,11%, do que de ônibus...). A conclusão imediata dos técnicos do IPPUJ foi: os microdeslocamentos (deslocamentos pequenos, internos aos bairros, que não tem como destino o centro da cidade) predominam e é necessário melhorar as calçadas. O mínimo viés de negatividade sequer foi introduzido nos dados. E se se tratar do contrário? E se a pesquisa de mobilidade puder ser lida como a pesquisa de não-mobilidade, de guetização, de compressão espacial dos habitantes de Joinville em zonas bem determinadas? A maioria dos deslocamentos a pé eram em bairros de menor renda per capita, ao passo que a maior parte dos deslocamentos motorizados eram nos bairros de maior renda. Ainda: aqueles que argumentavam que se deslocavam a pé ou de bicicleta, segundo a reportagem, diziam que tinham como destino compras simples, lotéricas, trabalho etc. É sintomático que ninguém que anda a pé ou utiliza bicicleta tenha dito que usa esses meios para ir a um teatro gratuito na Associação Joinvilense de Teatro. Os microdeslocamentos tratam-se de uma tendência, é certo; mas uma tendência que a expressa a não-mobilidade efetiva e o fracasso retumbante do transporte coletivo de modelo privado. A saída do IPPUJ é funcionalizar a não-mobilidade, e não proporcionar a mobilidade efetiva que permita a mediação a direitos básicos, como saúde, cultura, educação etc., que não se conformam aos estreitos horizontes de um bairro apenas e seus microdeslocamentos. A tendência histórica da constituição da cidade, isto é, a periferização dos trabalhadores em vista do aumento da exploração de sua força de trabalho, é elevada a projeto governamental consciente, ao invés de contrabalançar essa tendência ofertando transporte de qualidade.

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A condenação ao transporte de modelo privado parecerá injusta se não for seguida de uma alternativa. Que seja. Vou aduzir um exemplo radicalmente distinto do privado para pensarmos em contraste.

Em Hasselt, cidade da Bélgica de pouco mais de 70 mil habitantes, foi-se introduzido o Tarifa Zero (um projeto similar foi aplicado parcialmente no início da década de 90 em São Paulo; hoje existe nas cidades brasileiras de Agudos e Porto Real). O projeto consiste em financiar inteiramente o transporte com impostos progressivos, que incidem sobre as parcelas mais ricas da população – é claro que no Brasil a carga tributária é regressiva, incide mais no consumo dos pobres do que na propriedade dos ricos, e a aplicação local exigiria uma reforma tributária. Somado a isso, é necessária uma auditoria no transporte e a criação de uma empresa gerenciadora.

Em Hasselt após a implantação do Tarifa Zero, de 96 a 2006, o uso do transporte aumentou 1319%[vi]. O que o SIPS já havia projetado foi constatado em Hasselt: um transporte gratuito e com qualidade é atrativo ao usuário. Em Hasselt o uso aumentou em treze vezes.

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Lento e caro, o transporte coletivo perde usuários. A falta de investimentos no transporte junto a taxa de lucro sagrada e intocada dos empresários criou uma situação na qual mesmo o transporte coletivo sendo o meio que menos ocupa espaço nas vias, menos energia gasta, menos poluição causa e menos acidentes de trânsito causa[vii], não é atrativo. Hasselt é uma alternativa. A outra alternativa é um transporte ruim que ao expulsar usuários faz da motocicleta um atrativo – o meio de transporte que provoca e que é vítima de mais acidentes de trânsito –, o que acaba por inchar a saúde pública e abreviar as vidas de milhares de pessoas, sobretudo de jovens trabalhadores. Transporte público de qualidade é também alternativa para a saúde pública.

Em Joinville vivemos uma oportunidade histórica: é momento, depois de quarenta e cinco anos de exploração da Gidion e quarenta e três da Transtusa, podermos experimentar um modelo de transporte diferente. Vivemos um momento que a cidade deve decidir o que será: uma cidade verticalizada, com trincheiras e viadutos, com predominância do carro ou uma cidade democrática, com transporte coletivo público, de qualidade e com gestão democrática, com incidência de vento e sol não obstada por gigantescos prédios. Gidion e Transtusa não conseguem providenciar o que justamente deveriam providenciar: mobilidade. Uma licitação que venha apenas para legalizar a situação precária do transporte, mas que mantenha a exploração privada, não servirá em nada nos propósitos de providenciar mobilidade urbana.

Gidion e Transtusa já tiveram sua chance e fracassaram. É o momento de se experimentar um transporte verdadeiramente público, fora da lógica do lucro e em vista de uma cidade democrática.



[i] Sistema de Indicadores de Percepção Social, maio de 2011, p. 8, disponível em http://www.ntu.org.br/novosite/arquivos/IPEA_sips_mobilidadeurbana.pdf.

[ii] Tabela 1.1.2 – Distribuição das despesas monetária e não monetária média mensal familiar, por classes de rendimento total e variação patrimonial mensal familiar, segundo ostipos de despesa - Brasil - período 2008-2009, disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/tabelas_pdf/tabela1_1_2.pdf.

[iii] Sistema de Indicadores de Percepção Social, p. 10, maio de 2011.

[v] Joinville em números, IPPUJ, p. 10, disponível em http://www.ippuj.sc.gov.br/conteudo.php?paginaCodigo=155.

[vi] Em http://tarifazero.org/2009/08/13/transporte-publico-gratuito-em-hasselt-belgica/

[vii] Custos dos Deslocamentos – Custos para usar ônibus, moto e automóvel (Associação Nacional de Transportes Públicos), março de 2010, p. 4, disponível em http://portal1.antp.net/site/simob/Downloads/Custos%20da%20Mobilidade%20-%20mar%C3%A7o%20de%202010.pdf.

carta contra aumento (AN, 30.12.2011)

Preço da passagem

A Prefeitura tenta justificar o aumento na tarifa do transporte coletivo (28/12). Um possível não aumento, segundo Eduardo Dalbosco, seria medida “populista”. Na condição de usuário, acredito que o não aumento populista ainda é a melhor saída, já que mais uma vez os prejudicados serão os usuários, enquanto as empresas de transporte continuarão lucrando.

É preciso, ao contrário do que aconteceu nos últimos 40 anos de concessão pública, maior controle público sobre as empresas, envolvendo trabalhadores do setor e usuários. Não há controle sobre os gastos e os ganhos das empresas exploradoras do transporte público. Como podemos saber se esse reajuste se faz ou não necessário?

Maikon Jean Duarte

Fonte: A Notícia.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Vídeo de 21.12.2011

O pessoal do blog SubmundoJoinville fez um vídeo sobre a manifestação do dia 21 de dezembro de 2011, o qual compartilhamos abaixo. Fica o nosso agradecimento ao coletivo SubmundoJoinville.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Reunião da Frente de Luta confirmada

A Frente de Luta pelo Transporte Público realizará sua próxima reunião no dia 28/12, quarta-feira, às 18h na Praça dos Suiços (Rua XV de Novembro, em frente a Antarctica).

Venha participar! A reunião é aberta a todos aqueles contrários ao aumento da tarifa e por um transporte verdadeiramente público.

Frente de Luta pelo Transporte Público

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Repercussão na imprensa

Saiu na imprensa sobre a manifestação de ontem (clique sobre o link para ler):

Gazeta de Joinville - Não ao aumento da passagem de ônibus

Portal Joinville - Manifestação contra o aumento em Joinville


Portal Joinville - Licitação pode decidir os próximos 25 anos

Veja os vídeos do Portal Joinville:



fotos e vídeos da manifestação de 21/12/2011




Votação na assembléia decidindo as próximas atividades





Razões para barrar o aumento da tarifa dos zarcões

por Maikon K.


Escrevi as razões para entrar na luta contra o aumento de R$ 2,70 na tarifa dos zarcões. Todos os pontos foram baseados em diferentes relatos de usuários-as do meu círculo de amigos-as e familiares.

  1. Para ir ao Parque Cidade, localizado próximo da Arena, é preciso de carro ou de ônibus, pode pedalar e ir a pé, porém é importante notar o calor e chuva que ocorrem em Joinville. O zarcão é o meio de transporte coletivo e é uma boa maneira. Porém, para uma família de 4 pessoas, que mora no Parque Guarani, bairro de menor renda da cidade, ter um momento de lazer numa dominguera, com o novo aumento, custará R$ 21,60.
  2. O acesso ao SUS – Sistema Único de Saúde – também depende do transporte coletivo, já que determinados atendimentos, como a psiquiatria, não está disponível em todos os Postos de Saúde. Existem pessoas que precisam se deslocar de seu Bairro para outro.
  3. Assistir os jogos do Joinville Esporte Clube na 2ª divisão do Brasileirão representa um custo do ingresso e da ida até o Estádio.
  4. O grande número de usuários do transporte coletivo ocorre no translado de casa para o trabalho. Mesmo o trabalhador recebendo uma “ajuda” da empresa nos gastos com os deslocamentos, o aumento também interfere na renda da classe trabalhadora.
  5. O acesso a educação é prejudicado, já que a rede pública de ensino seja municipal ou estadual não está bem distribuída e organizada para atender todos-as as estudantes, o custo irá prejudicar o rendimento escolar.
  6. Em Joinville, a grande maioria dos-as estudantes do ensino superior depende do transporte coletivo. Importante notar, que o acesso ao ensino superior tem um custo, já que os-as estudantes pagam mensalidades.
  7. Os teatros e os cinemas em Joinville estão concentrados no centro da cidade. Além do pagamento do ingresso, é preciso gastar com o transporte coletivo.
  8. Os zarcões vivem lotados, os horários atrasos e os itinerários organizados de acordo com os interesses das empresas Gidion e Transtusa. Ocorre fiscalização dos setores competentes da PMJ, porém, muitos problemas ocorrem.
  9. Os-as trabalhadores-as das empresas Gidion e Transtusa exercem suas funções com precariedade. Não existe liberdade de organização sindical da classe, fato que poderia modificar as condições de trabalho.
  10. Nos últimos 40 anos, o aumento da tarifa ocorre com assinatura dos prefeitos. É hora de mudar a situação.

Já Basta!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Deliberações da manifestação de 21/12/2011

Deliberações da manifestação de 21 de dezembro de 2011, definidas na assembléia final:


1. Reunião da Frente de Luta pelo Transporte no dia 28/12, às 18h, local a confirmar (confira nesse blog);


2. Manifestação no dia 4 de janeiro de 2012.


Frente de Luta pelo Transporte Público

Não dá para não falar, por Cynthia Maria Pinto da Luz*

Essa é minha crônica de final de ano em “A Notícia”. Habitualmente, falo de questões polêmicas, que afetam a vida da maioria das pessoas no seu dia a dia, da falta de efetividade dos direitos humanos, da violação sistemática desses direitos pelo mundo capitalista e a luta incessante que se trava em prol de uma sociedade capaz de oferecer a cada um de nós e nossos familiares uma vida tranquila, modesta, mas estável. Que nos permita atravessar ano após ano sem grandes percalços, projetando nossos sonhos, aspirações em direção a uma existência feliz.

Porém, isso só acontece se tivermos nossos direitos respeitados. Saúde, educação e trabalho, por exemplo, são direitos fundamentais – garantias constitucionais – que devem ser respeitados, preservados e potencializados pelo gestor público. Só que, agora, novamente está na ordem do dia o reajuste de tarifa do transporte coletivo de Joinville. O povo trabalhador e a juventude não suportam mais qualquer aumento, pois o valor atual já é extremamente excessivo, fazendo com que muitos deixem de usar ônibus para financiar um veículo individual, motocicleta ou carro.

Isso causa a redução do número de usuários, aumenta a pressão por mais reajustes e transforma o trânsito em um caos. Aumenta os congestionamentos, os acidentes e a superlotação nas emergências hospitalares. Um movimento exatamente contrário a tudo o que dizem os especialistas em mobilidade urbana.

Fica evidente que reajuste de tarifa não é política pública de qualidade. Principalmente quando desponta como única inciativa no que diz respeito ao debate sobre transporte coletivo. Apesar de ser um tema sensível e de mobilizações históricas, não foi nessa gestão municipal que tivemos a coragem de ousar e aprofundar a discussão do modelo de gestão e da qualidade dos serviços.

Essa inércia é muito ruim ao governo municipal e, principalmente, à população, já que limita o acesso das pessoas ao transporte coletivo e não agrega incentivos ao uso do ônibus, pelo contrário. Até mesmo a contratação da empresa escolhida para realizar a licitação do sistema, como anunciou o governo municipal, contém vícios, já que as concessionárias são clientes da consultoria.

O aumento é inaceitável e agora cabe às organizações sociais, estudantes e populares se organizarem para novamente enfrentar a situação. Uma pena que neste final de ano não possamos inovar em nossos sonhos, mas persistir na luta.

cynthiapintodaluz@terra.com.br

*advogada do Centro de Direitos Humanos de Joinville

Fonte: Jornal A Notícia (21/12/2011).

Vídeos da luta contra o aumento da tarifa de ônibus

No vídeo abaixo, ato de panfletagem dentro do terminal central. Os seguranças da empresa tentaram intimidar os manifestantes, mas, amparados na constituição brasileira, exercemos nosso direito à livre manifestação. Confira:



No outro vídeo, entrevista de membro da Frente à Tevê Brasil Esperança sobre o aumento da tarifa de ônibus:

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

É Otávio, não existe corrupção, Ok

Por Valentim, militante da Frente de Luta pelo Transporte Público

No último dia 16, a TV Câmara exibiu um debate em torno da mobilidade urbana no Brasil no programa Participação Popular. No encontro, o sociólogo Diego Lourenço Carvalho, especializado na área de mobilidade, defendeu que o assunto deve ser tratado no âmbito social e não econômico. Já o presidente da Associação Nacional de Empresas de Transporte Urbano (NTU), Otávio Cunha, apresentou alguns argumentos para tentar justificar os constantes aumentos nas tarifas das empresas privadas que prestam o serviço.

Diogo desenvolveu uma tese sobre a mobilidade urbana de Brasília, UnB. Na pesquisa, o autor afirma que, para a realidade da capital, assim como em outras cidades brasileiras, é necessária uma mudança nos paradigmas da mobilidade, onde as políticas priorizem formas sustentáveis de locomoção, como o transporte público coletivo. Além deste debate, durante o programa da TV Câmara, foram apresentadas algumas estatísticas preocupantes sobre o assunto. Uma delas é que, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o preço das passagens está 60% acima da inflação, em decorrência dos serviços e aumentos aplicados desde 1995. O instituto também diz que para cada bebê brasileiro nascido são vendidos cinco carros e que, atualmente, o transporte urbano teve uma queda de 30% no número de passageiros.

É por estes e outros motivos que no último "Desafio Intermodal", realizado em setembro de 2011, em São Paulo, uma bicicleta conseguiu ser mais rápida do que motos, carros e ônibus, dentro de um determinado percurso. A ganância humana é tanta que, mesmo existindo tecnologias extremamente avançadas, estas máquinas perdem para as tradicionais duas rodas não motorizadas. O desejo pelo individualismo no transporte, somado aos constantes ajustes das passagens e a falta de qualidade do serviço prestado pelas empresas privadas, estimula este caos no trânsito marcado por grandes congestionamentos.

Durante o debate da TV Câmara, Otávio Cunha culpou as políticas de gratuidade pelo aumento nas passagens. "...A gratuidade afeta o próprio usuário... O usuário que integral é que abate esta gratuidade...", argumentou Otávio. Entretanto, o próprio Otávio admitiu que há possibilidade dos cálculos que são feitos para definir os valores finais das passagens estejam vulneráveis a cartéis e acordos ilegais feitos entre empresas e prefeituras. "Hoje, isso não existe no Brasil", disse Otávio durante a entrevista para tentar justificar que a ilegalidade não é um problema neste sistema. Então, corrupção não existe no Brasil, é isso mesmo?

Em resumo, as empresas que prestam este serviço raramente apresentam tabelas transparentes, que justifiquem as análises que resultam nos preços das passagens. Em Joinville, por exemplo, não existe, ao menos, um controle da Prefeitura em cima destes cálculos. Não se sabe de verdade quanto é gasto e quanto é arrecadado com o serviço. As secretarias e fundações que tentam regular o transporte urbano estão vulneráveis aos estudos das próprias empresas privadas, que em Joinville (Gidion e Transtusa) atuam sem licitação há mais de 40 anos.

Enquanto não houver transparência e intervenção direta da população na produção de políticas públicas que regulam o meio, não haverá soluções coerentes para a mobilidade urbana brasileira. Infelizmente, a bicicleta não é capaz de suprir a necessidade de todos os usuários. Em um país onde a maioria das cidades não são planejadas, a distância é um problema comum que afasta as populações do acesso à cultura, educação, lazer, entre outros.

A maioria das empresas de transporte urbano do país atuam sem licitação, cobram taxas abusivas e não possuem a mínima preocupação em investir na sociabilidade do transporte. Até mesmo, porque estamos falando de empresas privadas. O dia em que o sistema privado se preocupar com a população e deixar de visar o lucro, não estaremos mais falando do capitalismo e, sim, de um novo sistema de produção.

Fontes:

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/em-desafio-bicicleta-faz-percurso-mais-rapido-que-carro-e-moto
http://www.linearclipping.com.br/NTU/m_005_noticia.asp?cd_sistema=201&cd_noticia=2080453

[Memórias das lutas por transporte]

Essa seção do blog NoZarcão tem o objetivo de rememorar as lutas por transporte já ocorridas no Brasil. Vitoriosas ou não, todas mostraram que a população organizada tem força e por isso mesmo devemos refletir sobre elas. Se você tem um relato de uma luta por transporte coletivo que participou, seja em Joinville ou outro lugar, envie para frentedelutajoinville@gmail.com .

Em nossa primeira postagem, cartazes que relembram lutas que conseguiram barrar o aumento de tarifa no Brasil.




quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Relato da panfletagem de quarta-feira (14 de dezembro de 2011)


por Felipe Bello e Maikon K – militantes da Frente de Luta pelo Transporte Público

Não baixe a guarda, a luta não acabou”.

Criolo

A Frente de Luta pelo Transporte Público organizou um cronograma de atividades para barrar o aumento na tarifa do zarcão, que segundo o Prefeito Carlito Merss, por meio dos jornais, passará a custar R$2,70 a partir do dia 02 de Janeiro de 2012. A Prefeitura Municipal de Joinville também anunciou abertura de um processo licitatório para explorar o direito de ir e vir das pessoas. O fato é que o aumento continua acontecendo sem a consulta da população e a abertura de licitação perpetuará a exploração do transporte coletivo nas mãos de empresas que visam o lucro, não os direitos dos (as) usuários (as).

No dia 14 de dezembro de 2011, um grupo de dez militantes realizou um ato informativo dentro do Terminal Urbano Central. É a primeira vez que a Frente promove um ato, mesmo que pequeno, dentro do espaço do Terminal, fato que despertou uma tensão nos (as) militantes, já que é reconhecida a maneira truculenta que as empresas agem nos momentos de gritos contrários a exploração no transporte coletivo. Ao entrarmos no Terminal, passamos a falar no megafone, enquanto os demais membros da Frente distribuíam panfletos informativos. Imediatamente, uma mulher contratada pelas empresas Gidion e Transtusa, nos abordou e disse que nenhum panfleto poderia ser distribuído e que o megafone – que nesse momento era o instrumento de voz dos usuários (as) dos zarcões - não fosse mais utilizado. Argumentamos que o direito de expressão e organização é um direito constitucional, mesmo sabendo que historicamente os direitos burgueses são aplicados de acordo com os interesses dos ricos.

O ato continuou até que quatro homens vestidos de preto tentaram impedir a condução da nossa atividade. Nesse momento, ficou ainda mais evidente o quanto os seguranças estavam a serviço das empresas de transporte coletivo, já que o supervisor de nome Thiago, funcionário da Transtusa, argumentava quais as medidas os seguranças deveriam realizar. Somente um dos seguranças seguia os conselhos do supervisor da Transtusa, pois tentou impedir a fala no megafone, inclusive forçando a ruptura do microfone que conecta o nosso aparelho.

No momento seguinte, todos os seguranças presentes passaram a tentar usar a força contra os (as) militantes da Frente. Felizmente, demonstrações de apoio e incentivo surgiram da população presente no Terminal Central. Não sendo suficientes os gritos da população, as pessoas passaram a filmar, fotografar e foram para cima dos seguranças, demonstrações de apoio que nos motivou ainda mais a continuarmos a ação informativa. A população passou a gritar em coro “Já Basta!”. Também passaram a pressionar o supervisor da Transtusa a realizar a sua função, que no ponto de vista dos (as) usuários (as) presentes, seria cuidar para que os itinerários cumprissem seus horários, e não para que a população deixasse de ter voz.

Uma viatura policial marcou presença no Terminal Central Urbano, mas nada fizeram, já que as nossas ações não excederam as leis burguesas. Aproveitamos a presença policial para relatarmos a truculência realizada pelos seguranças. O fato é que na manhã seguinte do ato, fomos a Delegacia na Rua Marques de Olinda para abertura de Boletim de ocorrência contra a empresa de segurança Leon Master, que foi contratada pelas empresas Gidion e Transtusa. A medida de registrar um boletim de ocorrência serve para nós, um movimento social, como um documento do abuso exercido pelas empresas.

As palavras de apoio, a procura por mais informações de como participar da Frente e do ato programado para a quarta-feira, dia 21 de dezembro, às 18 horas, na Praça da Bandeira, instigaram a Frente a continuar na luta por um transporte público. Pois, ao baixarmos a guarda, as empresas e a PMJ irão explorar e dominar mais do que já estão habituados a fazer.

Em 2011 as nossas vozes gritam já basta de exploração sobre os nossos direitos, já basta de aumentos anuais, já basta de um serviço sem qualidade, já basta de um sistema que não nos permite o direito de ir e vir. Por um transporte coletivo definitivamente público, que permita a população o direito à cidade, já basta!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cartas sobre transporte coletivo, licitação e aumento da tarifa

Mobilidade 1

Odair Pavesi, na carta “Calçadas e terminal” (6/12), está equivocado quando diz que o Ippuj não se importa em mudar a norma vigente, que responsabiliza os particulares pelas calçadas. Assim como está errado em dizer que a equipe do instituto não as utiliza. Também está equivocado o jornalista José António Baço, na crônica “São Pedro não anda de zica” (4/12), ao dizer que o Ippuj só defende o uso de bicicletas porque provavelmente só conhece as da academia. Preconceito do primeiro, que deveria ser o primeiro a evitá-lo. Tentativa de fazer graça do segundo, que demonstra não estar integralmente a par das proposições do instituto.
No Plano Setorial de Mobilidade e Transporte, em elaboração, o instituto está propondo mais investimentos do poder público em passeios e menos em estrutura viária para carros, seguindo a lógica de priorizar pedestres e não veículos. Na licitação do transporte coletivo, propõe-se a integração do modal bicicletas, para trechos curtos, com o ônibus, para trechos mais longos. Exigiremos mais acessibilidade, comunicação de linhas e horários, estudaremos tarifas diferenciadas e tecnologias para atrair mais usuários. Convido ambos a visitarem o instituto. Para que o sr. Odair possa discutir conosco os investimentos em passeios e para que o sr. Baço constate quantos capacetes repousam sobre as mesas da equipe, que usa a bicicleta para deslocamentos diários.

Roberta Noroschny Schiessl, diretora-presidente do Ippuj

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3588071.xml&template=4191.dwt&edition=18521&section=892

Mobilidade

Roberta Schiessl, diretora-presidente do Ippuj (7/12), convida os srs. Odair Pavesi e José António Baço a visitar o instituto, num tom de “venham debater conosco, estamos sempre de portas abertas, somos muito democráticos”, na mesma semana em que o prefeito anuncia o aumento das passagens de ônibus e em que o JEC é campeão da Série C. Isso somado à tática de aumentar a tarifa em período de férias e festas, quando a população está desmobilizada.
A presidente também esquece de falar em sua carta que o Movimento Passe Livre espera um debate público e aberto desde o aumento de 2009. O que vimos desde então? Dois aumentos anunciados e nenhum debate. Agora, um instituto é contratado para elaborar a licitação (o que mostra que o Ippuj não tem equipe qualificada para tal), e promete apresentar em fevereiro de 2012. A pergunta que fica é: a população novamente não será escutada? E se for, será depois de fevereiro, com a licitação já escrita? Sendo assim, o que ela poderá opinar?

André Altmann - Joinville

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3589223.xml&template=4191.dwt&edition=18529&section=892

Mobilidade

Em relação à carta “Mobilidade”, do leitor André Altmann (8/12), a Fundação Ippuj informa que estão previstos dois momentos de audiências públicas, a serem realizadas em fevereiro e março de 2012, para ouvir a comunidade acerca do sistema de transporte coletivo de Joinville. Na primeira audiência, serão coletados subsídios para elaboração do projeto básico do sistema, e a segunda, para apresentação da proposta a ser licitada. Nessas oportunidades, tanto o Movimento Passe Livre, quanto toda a sociedade civil organizada ou não contarão com um debate público e aberto sobre o tema.
O Ippuj dispõe de equipe técnica altamente qualificada para elaboração dos trabalhos. A contratação da consultoria se dá em função da necessidade de contar com o auxílio de empresa que já tenha participado de outros processos licitatórios, uma vez que a licitação do sistema em Joinville é proposta pioneira do prefeito Carlito Merss. A consultoria deverá avaliar inovações tecnológicas, estabelecimento de um novo modelo tarifário, avaliar cenários futuros para o sistema de transporte e sistematizar a documentação que respalda o processo licitatório. Nesse sentido, é obrigação do instituto garantir a lisura dessa licitação, embasando o sistema a ser contratado em dados aferidos com absoluta isenção.
Por fim, esclarece-se que a análise de pedidos de reajuste tarifários do sistema não está entre as atribuições do instituto.

Roberta Noroschny Schiessl, diretora-presidente do Ippuj, Joinville

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3590543.xml&template=4191.dwt&edition=18537&section=892

Mobilidade

Em carta, Roberta Schiessl (9/12), diretora-presidente do Ippuj, informa que serão realizados duas audiências públicas sobre mobilidade, para ouvir a comunidade acerca do sistema de transporte coletivo de Joinville. Como se dois debates no último ano de mandato e às vésperas de uma licitação que pode determinar os rumos do transporte coletivo pelos próximos 25 ou 30 anos pudessem remediar os três anos de omissão do instituto na questão do transporte coletivo. A presidente também exime o Ippuj de culpa pelos aumentos. Se o órgão responsável por organizar o transporte e fazer a licitação não tem nenhuma relação com o aumento da tarifa, o prefeito é o único responsável?

Lucas Axt, Joinville

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3594278.xml&template=4191.dwt&edition=18565&section=892

Calendário de atividades

Confira o calendário de atividades da Frente de Luta pelo Transporte Público (os locais estão indicados com o googlemaps). As atividades são abertas.

Dia

Atividade

Horário e local

15/12, quinta-feira

Panfletagem

18h, arredores do terminal central

16/12, sexta-feira

Panfletagem

18h, arredores do terminal central

17/12, sábado

Panfletagem

18h, arredores do terminal central

18/12, domingo

Oficina de percussão com o Maracatu

15h, Praça dos Suiços

19/12, segunda-feira

Panfletagem

18h, arredores do terminal central

20/12, terça-feira

Panfletagem

18h, arredores do terminal central

21/12/11

Batucaço contra o aumento da tarifa

18h, Praça da Bandeira

28/12, quarta-feira

Reunião da Frente de Luta por Transporte Público

18:30h, a confirmar o local

Participe das atividades! Contribua com a luta contra o aumento da tarifa de ônibus e por um transporte verdadeiramente democrático em Joinville.

Frente de Luta pelo Transporte Público

terça-feira, 13 de dezembro de 2011