quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Não dá para não falar, por Cynthia Maria Pinto da Luz*

Essa é minha crônica de final de ano em “A Notícia”. Habitualmente, falo de questões polêmicas, que afetam a vida da maioria das pessoas no seu dia a dia, da falta de efetividade dos direitos humanos, da violação sistemática desses direitos pelo mundo capitalista e a luta incessante que se trava em prol de uma sociedade capaz de oferecer a cada um de nós e nossos familiares uma vida tranquila, modesta, mas estável. Que nos permita atravessar ano após ano sem grandes percalços, projetando nossos sonhos, aspirações em direção a uma existência feliz.

Porém, isso só acontece se tivermos nossos direitos respeitados. Saúde, educação e trabalho, por exemplo, são direitos fundamentais – garantias constitucionais – que devem ser respeitados, preservados e potencializados pelo gestor público. Só que, agora, novamente está na ordem do dia o reajuste de tarifa do transporte coletivo de Joinville. O povo trabalhador e a juventude não suportam mais qualquer aumento, pois o valor atual já é extremamente excessivo, fazendo com que muitos deixem de usar ônibus para financiar um veículo individual, motocicleta ou carro.

Isso causa a redução do número de usuários, aumenta a pressão por mais reajustes e transforma o trânsito em um caos. Aumenta os congestionamentos, os acidentes e a superlotação nas emergências hospitalares. Um movimento exatamente contrário a tudo o que dizem os especialistas em mobilidade urbana.

Fica evidente que reajuste de tarifa não é política pública de qualidade. Principalmente quando desponta como única inciativa no que diz respeito ao debate sobre transporte coletivo. Apesar de ser um tema sensível e de mobilizações históricas, não foi nessa gestão municipal que tivemos a coragem de ousar e aprofundar a discussão do modelo de gestão e da qualidade dos serviços.

Essa inércia é muito ruim ao governo municipal e, principalmente, à população, já que limita o acesso das pessoas ao transporte coletivo e não agrega incentivos ao uso do ônibus, pelo contrário. Até mesmo a contratação da empresa escolhida para realizar a licitação do sistema, como anunciou o governo municipal, contém vícios, já que as concessionárias são clientes da consultoria.

O aumento é inaceitável e agora cabe às organizações sociais, estudantes e populares se organizarem para novamente enfrentar a situação. Uma pena que neste final de ano não possamos inovar em nossos sonhos, mas persistir na luta.

cynthiapintodaluz@terra.com.br

*advogada do Centro de Direitos Humanos de Joinville

Fonte: Jornal A Notícia (21/12/2011).

Nenhum comentário:

Postar um comentário