Rafael Gomes Penelas
Em diversas cidades do país, o mês de janeiro foi marcado por protestos contra o aumento das passagens de ônibus. A juventude foi às ruas e enfrentou corajosamente as forças de repressão exigindo a redução do preço das passagens e o passe livre para todos os estudantes.
Manifestantes enfrentam a repressão policial nas ruas de Recife, PE
Ao todo, sete capitais brasileiras tiveram aumento nas passagens de ônibus municipais desde dezembro de 2011. O preço da tarifa do transporte público ficou mais caro no Rio de Janeiro (10%), em Belo Horizonte (8%), Cuiabá (8%), Vitória (6,8%), João Pessoa (4,7%), Recife (6,5%) e Teresina (10,5%). Outras quatro capitais devem ter aumento da tarifa ainda no primeiro semestre de 2012. Em Palmas, a tarifa deve chegar a R$ 2,50, um reajuste de 13,6%.
Não aceitando mais os criminosos aumentos, em todo o país milhares de pessoas participam das manifestações exigindo a redução das tarifas e contra a péssima qualidade dos transportes públicos.
Teresina – PI
Em Teresina, o ano começou com vários dias consecutivos de combativos protestos. O preço da passagem de ônibus na capital piauiense aumentou de R$ 1,90 para R$ 2,10. Nos dias 5 e 10 de janeiro, milhares de estudantes e trabalhadores enfrentaram a tropa de choque da PM nas ruas do Centro da cidade. Na manifestação do dia 5, em resposta a repressão desencadeada pela PM, os manifestantes incendiaram um ônibus.
No dia 10, um aparato repressivo com mais de 500 policiais foi enviado para impedir o protesto. Não temendo a repressão policial, os jovens responderam a agressão bloqueando a Avenida Frei Serafim, no Centro, e atirando paus e pedras contra a polícia. Pelo menos 17 pessoas foram presas. Três manifestantes ficaram feridos pelos disparos da tropa de choque da PM e outros tantos ficaram sufocados com as bombas de efeito moral. O estudante de filosofia Hudson Christh Silva Teixeira, 21 anos, perdeu a visão do olho direito após ser atingido por estilhaços de uma bomba atirada pela tropa de choque.
— "De repente, uma bomba explodiu nos meus pés e os estilhaços atingiram o meu rosto, principalmente o nariz e o olho direito. Quando virei para correr, recebi tiro nas costas e na perna", afirmou Hudson.
Buscando criminalizar o movimento, o delegado Antônio Marques Filho deu declarações dizendo que os manifestantes irão responder pelos crimes de "desobediência", "incitação ao crime", "resistência" e "atentado contra a segurança dos meios de transportes". A polícia está cobrando uma fiança de 10 salários mínimos (R$ 6.220) para cada preso liberado.
Em 13 de janeiro, oito dos manifestantes que foram presos durante os protestos, um dia após serem soltos, deram uma entrevista coletiva aos órgãos de imprensa e denunciaram as agressões físicas e o terror psicológico que sofreram na Casa de Custódia e na penitenciária feminina. Eles contaram que, ao chegarem na prisão, foram recebidos pelos policiais com as seguintes frases: "Bem-vindos ao inferno… Se olhar pra mim apanha!".
— "Durante a vistoria, alguns PMs encapuzados entraram na cela e nos agrediram. Eu mesmo levei um chute nas costas. Um outro estudante, levou um tapa na cara. As agressões foram muitas, tivemos nossas roupas rasgadas", disse o estudante Álamo Sousa, um dos presos.
Mesmo com as tentativas de intimidação e a repressão policial, a juventude de Teresina continua mobilizada e disposta para a luta até que a passagem seja reduzida."Eu não tenho medo, vou até o fim. O movimento não vai se intimidar", afirmou a funcionária pública Socorro Santana, uma das manifestantes presas.
Vitória – ES
A tarifa do Sistema Transcol passou de R$ 2,30 para R$ 2,45 e, em Vitória, a passagem subiu de R$ 2,20 para R$ 2,35.
Ônibus incendiado durante protesto em Vitória, ES
No protesto contra o aumento da passagem realizado no dia 11 de janeiro, os manifestantes bloquearam as avenidas Getúlio Vargas e Princesa Isabel, no Centro de cidade. A tropa de choque foi enviada para reprimir o protesto e chegou lançando bombas e balas de borracha. Os jovens enfrentaram a polícia e queimaram um ônibus. Ao menos 17 manifestantes foram detidos.
A polícia prendeu um estudante de física da Universidade Federal do Espírito Santo acusando-o de incendiar um ônibus e quer indiciá-lo por "tentativa de homicídio". O jovem foi rastreado através de redes sociais, usadas por ele para apoiar movimentos populares e as manifestações contra o aumento acontecendo atualmente no Brasil.
Recife – PE
Na manhã de 20 de janeiro, centenas de estudantes e trabalhadores foram às ruas protestar contra o aumento de 6,5% nas passagens. A decisão do aumento ocorreu durante reunião do Conselho Superior de Transporte Metropolitano realizada a portas fechadas nesse mesmo dia.
A manifestação marchava no Centro da cidade em direção a sede do Grande Recife Consórcio de Transportes, no Cais de Santa Rita, quando a tropa de choque da PM atacou os manifestantes. O confronto começou em frente ao Fórum Tomás de Aquino. Os manifestantes não se intimidaram e enfrentaram os soldados da tropa de choque, que tentaram em vão conter o protesto, lançando bombas de gás e balas de borracha e ferindo algumas pessoas.
Depois de o protesto ter sido disperso, os manifestantes se reuniram na Faculdade de Direito, na Boa Vista. Após a assembleia, eles resolveram novamente sair em passeata. Os policias se aproximaram mais uma vez lançando mais bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. As pessoas que participavam da passeata responderam lançando pedras contra os policiais.
No dia 23 de janeiro, centenas de pessoas voltaram a protestar e a enfrentar a repressão policial que, novamente, usou da truculência contra a manifestação. Algumas pessoas passaram mal com as bombas lançadas pela tropa de choque. Uma delas explodiu próxima a uma mulher grávida, que teve de ser socorrida aos prantos. Comerciantes do Centro de Recife também foram atingidos.
Em entrevista ao portal G1, a comerciante Edijane Conceição, que trabalha há dez anos na Avenida Conde da Boa Vista, disse: "Eu tava trabalhando, não tinha nada a ver com isso. Jogaram pimenta nos meus olhos, está ardendo muito". E o comerciante Rafael Azevedo afirmou que foi uma "Covardia, os estudantes estavam desarmados e eles [policiais do choque] já chegaram com escudos levantados".
Belo Horizonte – MG
Na capital mineira as passagens do transporte metropolitano aumentaram de R$2,45 para R$2,65. Há ainda passagens para outras localidades cujos preços ultrapassam os R$3,50.
Um protesto organizado por um comando composto por diversas organizações estudantis mobilizou estudantes e trabalhadores numa manifestação no Centro de Belo Horizonte no dia 12 de janeiro. Cerca de 200 pessoas participaram da passeata, que foi apelidada de 'Porrada no Busão', numa referência à luta contra o aumento da passagem travada pelos estudantes de Rondônia no ano passado, com o mesmo nome.
Joinville - SC
No dia 13 de janeiro, dezenas de jovens fizeram uma manifestação em solidariedade à luta dos estudantes de Vitória e Teresina. No vídeo postado no Youtube os manifestantes aparecem cantando a palavra de ordem: "Luta em Vitória, luta em Teresina, se em Joinville não baixar, a luta não termina!". Na cidade, a maior de Santa Catarina, a passagem aumentou para R$ 2,70 no início do ano.
Rio de Janeiro
No dia 4 de janeiro, ocorreu a primeira manifestação na capital fluminense. O protesto percorreu a Av. Presidente Vargas, no Centro da cidade, contra o aumento da passagem que passou de R$ 2,50 para R$ 2,75. Nos dias 13, 18 e 25, centenas de trabalhadores e estudantes realizaram novas manifestações que foram da Candelária até a Central do Brasil, onde os manifestantes pularam as catracas dos ônibus (o famoso 'pulão' ou 'catracaço') e abriram as portas de trás dos coletivos, liberando o acesso à população.
Nos dias que antecederam os protestos, o Comitê Contra o Aumento das Passagens, criado pelos manifestantes para organizar a luta, distribuiu mais de 10 mil panfletos convidando a população a participar dos protestos, que estão marcados para acontecer todas as quartas-feiras. Uma ampla divulgação foi feita nas redes sociais na internet. Cartazes foram colados e pichações contra o aumento foram feitas no Centro da cidade.
A reportagem de A Nova Democracia esteve presente nas passeatas e conversou, no dia 18, com vários trabalhadores que passavam pela Av. Pres. Vargas na hora da manifestação e não pouparam críticas ao reajuste da tarifa, o segundo em um ano.
— Se eu vim de Manilha, do outro lado da ponte [Rio-Niterói], para cá, e agora eu vou daqui para Botafogo, já dá R$ 1,50 a mais. Isso todo dia, durante o mês, quando somar... É quase uma cesta básica ou um botijão de gás, que é R$ 32 – disse um trabalhador.
—O aumento que a gente tem de salário é o mínimo possível, e a passagem que eles aumentam não dizem nem a porcentagem que é. Para mim é um gasto altíssimo, porque eu pago uma passagem de R$ 13,00. A metade do dinheiro que eu ganho é só de passagem – relatou outro trabalhador que demonstrou apoio à passeata.
Os vídeos feitos por AND com as imagens das manifestações e as entrevistas podem ser vistos no blog da redação do jornal: anovademocracia.com.br/blog.
Fonte: A Nova Democracia.
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